Corpos estão empilhados no pátio...



Publicação: 12 de Fevereiro de 2011 às 00:00
fotos: adriano abreu

A crise estrutural no Itep é séria. Até a tarde de ontem, o necrotério do local tinha 25 cadáveres e 20 ossadas na câmara fria e empilhados em gavetas no pátio. A alegação é de falta de vagas em cemitérios públicos, o que foi negado por parte da Secretaria de Serviços Urbanos de Natal (Semsur). Não bastasse o acúmulo de cadáveres, a única câmara fria está com defeito e não consegue manter a temperatura ideal. O resultado é o mau cheiro dos corpos já em estado de decomposição.



Sem espaço, corpos são deixados em gavetas no pátio do ItepDe braços cruzados desde a terça-feira (8), os funcionários do Itep seguem cobrando melhorias na estrutura do órgão e o pagamento das gratificações aos servidores que cumprem plantões. O necrotério é um dos setores que segue com as atividades transcorrendo, cumprindo o que determina a lei. Contudo, a estrutura do local, bem como dos demais setores do órgão, é precária.

Indignados com a acusação do Governo do Estado de que o Itep era uma “fábrica de plantões”, os funcionários reclamam que, ao contrário do que foi noticiado, os profissionais do Instituto trabalham com afinco e a despeito dos inúmeros problemas estruturais que o Itep possui. Um dos casos mais flagrantes é o do setor de odontologia legal, acusado pelo próprio Governo de ter plantões noturnos fantasmas. Para os profissionais, a informação não só é falsa como esconde as dificuldades com as quais eles lidam todos os dias. Câmara de refrigeração quebrada, falta de vagas nos cemitérios públicos, estrutura física inadequada, falta de equipamento e exames que demoram meses. Essa é, segundo os profissionais do setor de Odontologia Legal, a realidade do cotidiano no Instituto Técnico-científico de Polícia. “Divulgaram que somos 12 dentistas e na verdade somos oito, sendo dois por plantão. Estamos a disposição do órgão 24 horas por dia e realizamos um trabalho de suma importância, mesmo sem estrutura”, relata Dilana Penna Lima, chefe do serviço de Odontologia Legal.

O exemplo claro da dificuldade de conseguir trabalhar no Itep é a quantidade de corpos e ossadas acumuladas, à espera de sepultamento. Até ontem, os 25 cadáveres e 20 ossadas na câmara fria que está com defeito. Segundo Dilana Penna, todo esse material já foi analisado, mas sem vagas nos cemitérios ficam acumulados em condições precárias. “Da forma como o Governo falou, parece que a culpa por situações como essas é dos servidores, mas isso não é verdade. Esse prédio tem 30 anos, está pequeno para a atual demanda e falta equipamento”, diz a chefe do setor.

Por outro lado, a Semsur explica que não procede a informação sobre falta de vagas nos cemitérios. De acordo com a titular da pasta, Solange Ferreira, todas as solicitações que são feitas pelo Itep à Prefeitura com relação a sepultamentos são atendidas. “As vagas não sobram, mas sempre conseguimos fazer o reordenamento e, quando não há espaço, conseguimos túmulos em cidades vizinhas. Se há corpos no necrotério e não foram sepultados, é porque não houve a solicitação por parte do Itep”, garantiu a sceretária.

A câmara fria do órgão, originalmente utilizada para os corpos em estado de decomposição, está quebrada há 15 anos, segundo Dilana Penna. “Dessa forma, o trabalho do setor de odontologia precisa ser feito com urgência. Assim que chega um corpo em decomposição, precisamos fazer a análise, porque não tem onde guardar esse corpo”, explica.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou contato com a direção do Itep durante a manhã e a tarde de ontem, mas não obteve êxito.

Paralisação

A greve no Itep teve início na terça-feira (8), motivada pelo corte das gratificações referentes aos plantões e adicionais noturnos dos funcionários. Hoje está previsto o pagamento das gratificações dos funcionários que cumprem 24 horas de plantão, beneficiando 278 dos 523 funcionários do órgão. Porém, ainda não há data para o pagamento dos plantões dos demais servidores, que está sendo organizado pelo Governo através de uma inspeção dentro do Itep para saber quais são os servidores que realmente devem receber os benefícios. Os funcionários garantiram que só retornarão aos trabalhos depois que o Executivo pagar os plantões dos servidores que trabalharam e garantir por escrito o encaminhamento do projeto que trata sobre o estatuto do órgão.

Pessoas de Odontologia fazem denúncias

Os profissionais da área de odontologia do Itep estão revoltados com a notícia de que não receberão os valores referentes aos plantões e adicionais noturnos de janeiro, informação que foi repassada ontem. Eles garantem que cumpriram o serviço e afirmam que o Governo deveria trabalhar de melhor forma a questão administrativa no setor.

Os profissionais da odontologia são responsáveis pelos exames de acarda dentária; registro das características físicas da face, como tatuagens, cicatrizes e lesões produzidas por mortes violentas; exames de corpo de delito; estimativa de idade; exames em ossadas para descobrir idade, sexo, estatura, raça, além de coleta para exames de DNA. Muitos desses serviços, segundo os servidores, funcionam 24 horas por dia e, embora os peritos não durmam no Itep, pela falta de alojamento, há um esquema de sobreaviso. Eles alegam que podem ser acionados à noite e, quando há uma ocorrência, vão de casa para a sede do Instituto. Contudo, apesar de afirmarem que cumpriram o os plantões, eles não irão receber. “Sem dúvida, é um descaso com o nosso trabalho. Eu não tenho conhecimento das questões administrativas. Se há gente contratada que não trabalha, é uma questão da administração. Mas posso garantir que os oito profissionais da minha equipe se dedicam e desempenham um papel fundamental”, encerrou Dilana Penna Lima, chefe do serviço de Odontologia Legal.

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