Violência: escola fecha as portas...


Mais uma vez a violência venceu na Grande Natal. Dessa vez, não foi um homicídio, assalto ou sequestro. As vítimas, agora, são os 81 alunos do turno noturno da Escola Municipal Dayse Hall, em Macaíba. Por causa do vandalismo de alguns e a inexistência de policiamento adequado, as aulas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) foram suspensas por decisão do Ministério Público Estadual. Desde o último dia 5, não há atividades no período noturno na única escola da comunidade das Campinas.
Há pelo menos um ano, estudantes e professores sofrem ameaças de diversos modos. "A gente vive em constante situação de risco. Já entrou um rapaz aqui [na escola] dizendo que ia enfiar a faca na barriga de um professor. É horrível a situação", relata a professora Goreti dos Santos. As informações são confirmadas pela diretora da escola, Rubenilda da Silva. "Alunos brigam dentro de sala de aula e nos sentimos ameaçados porque sabemos que existe venda de drogas dentro da própria escola", declara.

O prédio onde a escola funciona há 45 anos é pequeno e modesto. São 8 salas de aula e há um pátio onde são realizadas algumas atividades. Não há quadras de esporte nem campos de futebol. Não fosse a ação dos vândalos que jogam pedras no telhado e arrancam grades de janelas e portas, o local seria mais conservado. "Só esse ano, foi preciso trocar as telhas duas vezes. Já jogaram até paralelepípedo. Felizmente, ninguém se feriu", diz a vice-diretora Elizabete Pereira.

Segundo as professoras, há dias atrás o vigia da escola viu que alguns homens rondavam o local portando armas. Em outra ocasião, as aulas do EJA foram suspensas porque dois adolescentes brigaram dentro da sala. "Já jogaram até fezes humanas dentro da sala", lembra Goreti.

Na parte de trás da escola, uma estrutura de tijolos e cimento lembra uma quadra de esportes que, segundo moradores, nunca foi concluída. Protegendo o colégio, apenas muros baixos que qualquer adolescente pode ter acesso facilmente. "Jogam pedra e areia pra dentro da escola. É um absurdo. Eu até reclamo mas eles nem ligam, fazem é xingar a gente", conta a dona-de-casa Tereza Cristina.

Para a diretora, o comportamento dos alunos é reflexo do que ocorre na comunidade. "O bairro é muito carente. Não temos um espaço público para os jovens. A comunidade vive com problemas desde quando surgiu", desabafa Rubenilda.

Cansados de esperar uma solução, professores e Conselho Escolar decidiram procurar ajuda do Ministério Público. Diante dos relatos, o promotor Augusto Carlos Rocha de Lima, decidiu suspender as aulas e enviar uma série de recomendações à Prefeitura. "Chegamos ao ponto de mandar suspender as aulas. Antes, tentamos manter o diálogo com a Prefeitura mas nunca obtivemos respostas. A Escola Dayse Hall está vulnerável frente a indivíduos da comunidade de Campinas que insistem em semear o medo", diz.

Aulas devem ser transferidas para o Centro

A prefeita Marília Dias reconhece que a comunidade de Campinas tem problemas estruturais e sabe do vandalismo que acontece na escola. "O bairro sempre teve problemas. Não existem equipamentos públicos de lazer para os jovens que muitas vezes ficam ociosos. Precisamos ocupar o tempo dessas pessoas para que não haja mais esse problema de depredação da escola", diz.

Entre as recomendações do Ministério Público enviadas à prefeita, está a contratação, em regime de urgência, de serviços de segurança privada 24 horas para a escola. Segundo Marília Dias, a recomendação não será atendida de imediato. "Não adianta contratar segurança para escola, se não resolver o problema social que existe na comunidade. Vou conversar com o Promotor para chegar a um acordo que realmente resolva os problemas do local", diz.

Uma solução paliativa foi proposta aos professores: transferir as aulas do EJA para a Escola Municipal Pedro Gomes, no Centro de Macaíba. A Prefeitura disponibilizará o transporte adequado. A proposta será votada em uma reunião entre pais e professores. "Mas eu acho que isso não vai adiantar muito. Quem quer estudar mesmo, vai, mas o problema vai continuar existindo por aqui", diz Rubenilda da Silva.

A solução pode ser inviável para estudantes que não podem se distanciar de casa. É o caso de Gislayne da Silva, 21 anos. Desempregada e mãe de um filho de 7 anos, Gislayne conta que não tem com quem deixar o filho para poder estudar. "Eu trago ele aqui pro colégio pra assistir a aula comigo. Se for pra ir lá pro Centro, não tem como levar", diz. "Tem que ser feito alguma coisa. Eu tenho um sonho de me formar, de ser alguém na vida, mas com a escola desse jeito, está muito difícil", completa.

Com relação aos problemas estruturais da comunidade de Campinas, a prefeita Marília Dias diz que vai se reunir com sua equipe para traçar alguns planos. "Já mandei fazer orçamentos para recuperar a quadra que existe atrás da escola e construir um campo de futebol". Além disso, a prefeita conta que irá procurar o Comandante da Polícia Militar, Coronel Araújo, para pedir mais efetivo para o município.



Fonte: Tribuna do Norte
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