Polícia Civil aguarda "folga" nas contas para receber investimentos...

Delegado Geral da Polícia Civil do Rio Grande do Norte há três meses, Fábio Rogério acredita que as limitações impostas à corporação não podem servir de justificativa para o não cumprimento do dever.

Segundo ele, nos últimos 15 anos a Polícia Civil foi sucateada e teve seus quadros reduzidos, mas ainda tem em seu pessoal, o maior diferencial, e é por isso que vem buscando motivar a todos e apresentando à sociedade resultados surpreendentes com operações coordenadas e a prisão de cerca de 200 pessoas em pouco mais de um mês.

Consciente das dificuldades do Estado, o delegado se mostra otimista com o breve equilíbrio financeiro do governo e que sejam feitos novos investimentos na Civil, inclusive com a nomeação dos concursados, o que o para ele, resolveria os problemas da polícia.

Tiago Medeiros – Qual é a bandeira desta nova gestão da Delegacia Geral de Polícia Civil?

Fábio Rogério – A bandeira de minha gestão é o combate aos homicídios, ao tráfico de drogas, aos roubos a bancos e tirar de circulação as pessoas nocivas a sociedade. Elas têm que ser presas, e é o que nós estamos fazendo como, por exemplo, quatro operações que já resultaram na prisão de aproximadamente 200 criminososEsse é o caminho que eu vejo para que essas pessoas não fiquem impunes e o caminho para a diminuição da criminalidade.

TM – E como o senhor pretende priorizar o combate a esses crimes?

FR – O modelo atual da Delegacia de Homicídios não corresponde às expectativas da sociedade. Tudo mudou, a sociedade vive um novo momento, a criminalidade vive um novo momento e esse modelo não corresponde com a atualidade, então nós temos que acompanhar essa evolução e para isso temos que criar a divisão de homicídios, que é o modelo de investigação que tem dado resultado nas grandes cidades como: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Recife e Fortaleza. Esse modelo tem que ser adotado aqui, porém para isso temos que ter recursos e investimentos e estamos esperando por isso.

TM – Mas a equipe econômica do governo só fala em limitações e dificuldades financeiras. Há como modernizar essas delegacias sem tantos investimentos?

FR – Estamos apenas no 2º semestre do governo e eu entendo as dificuldades, mas acredito que nesses meses seguintes as contas vão “folgar” mais e os investimentos virão para a Polícia Civil, bem como a contratação desses novos policiais para que possamos criar novas delegacias e aumentar a capacidade investigativa da polícia.

TM – Uma das prioridades é o combate ao tráfico de drogas. A interiorização da droga já é uma realidade no Estado ou ainda é pontual?

FR – Eu acredito que a evolução da droga no interior já é fato confirmado. A maioria das cidades do interior já tem focos de maconha e crack.

TM – E como a Polícia Civil está estruturada para combater esses focos?

FR – Em nossa atual conjuntura verificamos que há tempos a Polícia Civil vem diminuindo e isso tem causado um grande prejuízo para a instituição como para a sociedade, porque crimes deixaram de ser investigados, pessoas deixaram de ser presas, processos ficaram parados. No tráfico são apenas duas delegacias especializadas, uma em Natal e outra em Mossoró, e com pouca estrutura para combater o avanço da droga no Estado, mas temos a esperança que esse quadro irá mudar em breve.

TM – E o tráfico internacional, nós já somos parte da rota?

FR – Com certeza já viramos ponto da rota internacional do tráfico de drogas sim, o fato do RN está nessa posição geográfica, na esquina do continente, o torna muito estratégico para a Europa e África. Inclusive essa semana a Polícia Federal fez uma enorme apreensão de maconha em um sítio, na zona rural de São José do Mipibú.

TM – E os homicídios? Em Mossoró os homicídios geralmente são justificados pelo envolvimento da vítima com o tráfico de drogas, isso é uma regra ou mera coincidência?

FR – É fato que a droga motiva outros crimes, principalmente o de homicídio, e outros de menor ofensividade como: furtos e roubos. O traficante ele não se melindra e qualquer desavença com um usuário ele não vai lá para tirar satisfação, ele vai lá para matar.

TM – Os números de homicídios em Mossoró estão diminuindo, mas a cidade ainda está longe de ser considerada pacifica. A polícia está intensificando o policiamento lá?

FR – No pico dos índices de homicídios na cidade teve uma audiência pública na Câmara Municipal, onde eu, o secretário estadual da Segurança Pública, o comandante geral da PM, o comandante geral do Corpo de Bombeiros e o diretor do ITEP, participamos e nos comprometemos em mudar aquele cenário. E está mudando. Foram intensificados o patrulhamento ostensivo, as investigações de processos que estavam parados, quadrilhas foram desbaratadas, inclusive a quadrilha que matou o dirigente do PT em Serra do Mel que estavam cometendo outros homicídios na região, outros morreram em confronto com a polícia militar, e tudo isso é reflexo de que as policias Civil e a Militar estão focadas na questão Mossoró para diminuir a criminalidade.

TM – A Força Nacional está aqui no Estado investigando crimes de homicídio que estavam com as diligências paradas. Os resultados são otimistas ou ainda estão abaixo do esperado?

FR – A Força Nacional é composta por policiais que vêm de outros estados para nos apoiar, e eles têm um tempo determinado de permanência, geralmente de três meses prorrogáveis por outros três meses, e investigam crimes antigos. Eles precisam de uma atenção especial por parte do Ministério Público e do poder Judiciário, ora a partir do momento que eles solicitam um mandado de prisão ou de busca e apreensão e esses pedidos demoram a ser expedidos, isso dificulta bastante a atuação deles, que infelizmente não está avançando na quantidade de prisões em decorrência dessa demora. Cerca de 30 a 40 pedidos de prisão ainda sequer foram analisados pelo juiz ou pelo MP e consequentemente os bandidos estão soltos. A nossa visão é que enquanto um homicida estiver solto a criminalidade só vai aumentar, e preso com certeza haverá uma diminuição da criminalidade na área, mas se outras pessoas entendem que para ser preso o criminoso precisa matar 5, 6, 7, 10 ai realmente fica difícil de atingir nosso objetivo, que é diminuir a criminalidade.

TM – Nas últimas semanas vimos alguns crimes serem rapidamente solucionados com a ajuda da tecnologia. A Polícia Civil conta com ferramentas modernas?

R – A Policia Civil não está aparelhada tecnologicamente, mas estamos buscando informatizar toda a polícia, porque entendemos que hoje em dia sem essas ferramentas com certeza iremos ficar para trás no combate ao crime.

TM – Como estão os trabalhos de combate aos roubos a caixas eletrônicos?

FR – Os trabalhos das Policiais Civis do RN, da Paraíba, Pernambuco, e do Ceará já estão sendo integrados. Essa união é muito importante para que se diminuam as fronteiras entre estes Estados e se tenha um combate mais efetivo a estas quadrilhas tendo em vista que a maioria delas são interestaduais. Nós temos que ultrapassá-los para poder prendê-los, logicamente que há vários obstáculos, mas estamos conseguindo superá-los e prender esses criminosos desarticulando estas quadrilhas que estão aterrorizando o estado.

TM – Qual o atrativo que esses bandidos vêem nos bancos privados e não vêem nos públicos?

FR – Na verdade o único que eles têm dificuldade de arrombar são os da Caixa Econômica Federal devido a um sistema de segurança do banco que torna ineficaz os arrombamentos e as explosões. E esse seria o distanciamento entre eles investirem nos bancos privados e não nos outros.

TM – Esta semana o senhor esteve em uma feira de segurança com o secretário de Segurança e o comandante geral da PM. O Estado adquiriu algum equipamento para modernizar a Civil?

FR – Eu vi na feira coisas que nunca havia visto antes e fiquei muito entusiasmado, eram muitas ferramentas para o combate ao crime, mas tecnologia é cara e o Estado terá que se adaptar a esta realidade, ou não colherá tantos frutos com as ferramentas do passado.

TM – Este ano a polícia Civil passou por uma das, se não a maior, greve de sua história e encerrou com uma série de acordos entre governo e sindicato. Esses acordos estão sendo cumpridos?

FR – Os acordos estão sendo cumpridos, alguns ainda faltam ajustes, como por exemplo, o ticket refeição, porque não depende só da Degepol, mas a maioria dos pontos estão sendo cumpridos no prazo sim.

TM – Na prática, as condições de trabalho dos policiais melhoraram depois da greve?

FR –
Estamos motivando o pessoal porque é uma nova realidade, uma nova administração e eu tenho um relacionamento muito bom com todos. Estamos tentando resgatar a auto-estima do policial e trazer para a Policia Civil números positivos. Isso foi o que mais fortaleceu a polícia nos últimos meses, no entanto temos algumas dificuldades. Hoje a polícia está muito fragilizada no tocante a estrutura e pessoal, as delegacias estão sucateadas, e isso dificulta muito, mas eu acredito que no decorrer desses meses nós conseguiremos mudar esse cenário.

TM – Um dos pontos polêmicos da negociação do fim da greve foi a volta dos plantões em todas as delegacias. O senhor foi contrário, por que?

FR –
Porque as delegacias que em tese funcionavam em regime de plantão, de fato nunca funcionaram, isso era uma ilusão, uma fantasia, o policial passava a noite dormindo e servindo de vigia do prédio. As únicas que ficam abertas realmente eram as duas de plantão (zona Norte e Sul). E sou contra isso, porque pra cuidar do prédio tem a guarda patrimonial, que é o que está ocorrendo agora, e com isso nós ganhamos 130 policiais civis, que reforçarão as unidades e mobiliarão a delegacia de plantão zona Oeste que inauguraremos em Setembro.

TM – E as delegacias do interior em que os policiais militares saíram, permanecerão fechadas?

FR –
A única delegacia que permanecerá sem esses policiais militares serão as de Mossoró, nas demais eles retornarão e a partir de segunda-feira (29), 17 policiais já se deslocarão para lá. Assim não haverá prejuízo nenhum para a sociedade até que os novos policiais sejam efetivamente apresentados em seus novos locais de trabalho.

TM – Porém, muitos desses policiais civis afirmaram que recorrerão da determinação.

FR –
Se fala muito de requerimentos e licenças, mas ainda não chegou ao meu conhecimento, pelo menos na Degepol, esses requerimentos que em chegando analisaremos e passado os 30 dias do prazo legal se eles não comparecerem responderão administrativamente.

TM – A nomeação dos concursados resolveria os problemas da Polícia Civil?
FR –
Com certeza resolveria, estamos hoje com o efetivo estagnado, nesses últimos 15 anos que estou na Policia Civil só vi o quadro diminuir, enquanto que a população aumentou, as cidades cresceram, a bandidagem triplicou, ai fica muito difícil combatê-los e termos uma qualidade maior no serviço oferecido à população. Uma vez que delegados, agentes e escrivães estão sobrecarregados, respondendo por várias cidades. Um servidor respondendo por 15, 20 cidades não tem como realizar um trabalho perfeito, é humanamente impossível, ele não tem como dá conta de tudo. Mas se conseguimos a nomeação desse pessoal com certeza o trabalho da Polícia Civil vai crescer, porque prisões serão realizadas, procedimentos que estavam parados serão encaminhados e teremos uma qualidade melhor no serviço ofertado.

TM – Qual é o maior limitador da Polícia Civil: a falta de pessoal ou a de investimentos?
FR –
A falta de pessoal hoje é o que mais prejudica a Polícia Civil. Os investimentos também são importantes, mas o pessoal, hoje, é o fundamental, o essencial.

TM – Quais as expectativas do senhor, enquanto delegado geral, do governo Rosalba para com os policiais civis?
FR –
Eu acredito que apesar dos transtornos que houve no passado com as greves, nós temos como reverter essa imagem negativa e dá ao cidadão, que não tem nada haver com esses problemas internos, uma resposta positiva do nosso trabalho. Esse é nosso dever institucional, somos importantes e temos potencial para atingirmos nosso lugar de destaque, só precisamos um pouco mais de atenção e investimentos do governo para que possamos alcançar tudo isso.


Fonte: Nominuto.com
Postagem Anterior Próxima Postagem