Em depoimento, presa relata tortura a estrangeiros assassinados no RN...

04/04/2014 15h41 - Atualizado em 04/04/2014 16h02


Ariane Souza, de 18 anos, fala em gritos e violência no dia do crime.
Croata e sueco foram mortos na praia de Jenipabu, na Grande Natal.

Felipe GibsonDo G1 RN

Croata Ante Stanic, de 57 anos, e o sueco Faik Mekic, de 78 anos (Foto: Reprodução/Inter TV Cabugi)Croata Ante Stanic, de 57 anos, e o sueco Faik Mekic, de 78 anos (Foto: Reprodução/Inter TV Cabugi)
Gritos e muita violência. Foi o que relatou Ariane Mandu de Souza Silva, de 18 anos, sobre a madrugada do dia 8 de março, quando o croata Ante Stanic e o sueco Faik Nekic foram torturados e mortos por quatro homens em uma casa de praia de Jenipabu, no litoral Norte do Rio Grande do Norte. Presa pela participação no crime, a manicure detalhou a relação que tinha com os europeus e o que aconteceu no dia das mortes em depoimento ao delegado Daniel Couto, titular da Delegacia Especializada em Assistência ao Turista (Deatur).
No depoimento prestado no dia 20 de março ao qual o G1 teve acesso, Ariane conta que conheceu Ante Stanic, a quem chamava de 'Charles', em setembro do ano passado na Praia do Meio, em Natal. Desde então a manicure passou a marcar encontros com o croata e outras mulheres na casa de Jenipabu, onde também conheceu o sueco Faik Nekic.

Uma semana antes do carnaval Ariane foi vista pelos demais envolvidos no crime na companhia do europeu. Questionada se as duas vítimas tinham dinheiro, ela falou aos suspeitos sobre a casa de Jenipabu. A partir daí um assalto ao imóvel começou a ser planejado.

Na noite do crime, Ariane discutiu com Stanic e conseguiu levar uma das chaves da casa. O croata a deixou perto da casa de um dos suspeitos. No local, a manicure falou sobre a discussão e que o europeu havia apertado seus braços com força. Os suspeitos que ouviram o relato ficaram revoltados e decidiram assaltar a casa na mesma noite.

Tortura

Foram até o imóvel Ariane, uma outra garota e cinco homens. Um deles deixou o local de carro antes do crime, as mulheres ficaram do lado de fora da casa e quatro suspeitos invadiram o imóvel. Ao ouvir gritos de 'por favor', a manicure entrou na casa com a outra garota e encontrou Ante Stanic sendo torturado por dois homens dentro de um quarto.

No depoimento, a manicure conta que o croata estava deitado, enquanto os suspeitos cortavam fios do varal para amarrar o europeu. Um saco foi colocado na cabeça de Stanic, que foi alvo de chutes no chão. O europeu chegou a urinar durante a tortura, segundo Ariane. Após as agressões, um dos suspeitos usou um lençol para enforcar o croata, que foi jogado no chão sem ar. Em outro quarto, Faik também era torturado. Segundo Ariane, o sueco defecou de tanto apanhar.
Casa onde croata e sueco foram mortos em Jenipabu, litoral Norte do RN (Foto: Sérgio Henrique Santos/Inter TV Cabugi)Casa onde croata e sueco foram mortos em Jenipabu, litoral Norte do RN (Foto: Sérgio Henrique Santos/Inter TV Cabugi)
Após o crime, os suspeitos fugiram com uma bomba de hidromassagem e duas malas com vários pertences dos europeus. Na casa de um dos envolvidos no crime foi feita a divisão do que foi roubado do imóvel em Jenipabu.

Prisões

A Polícia Civil prendeu na manhã desta sexta-feira (4) mais dois suspeitos de envolvimento nas mortes do croata Ante Stanic e do sueco Faik Nekic. Um jovem de 19 anos e outro de 22 foram convocados a comparer à delegacia para prestarem esclarecimentos. Porém, ao se apresentarem, souberam que havia mandados de prisão preventiva contra eles. Outras cinco já tinham sido presas por participação na morte dos europeus.

De acordo com a assessoria de comunicação da Polícia Civil, os dois suspeitos foram identificados após ouvirem depoimentos dos demais presos. Com mais estas duas prisões, a polícia afirma ter concluído as investigações. Os suspeitos serão indiciados por extorsão, latrocínio e associação criminosa. Se condenados, podem pegar até 30 anos de prisão.

Segundo o delegado Daniel Couto, a motivação do crime se deu por causa de um suposto cofre contendo R$ 100 mil, dinheiro que estaria na casa do estrangeiro.

Operação Luxúria
Dez dias após a morte dos estrangeiros, a polícia prendeu cinco suspeitos de participação no crime. Um delas foi solta depois. Entre os que ficaram detidos, está uma jovem de 18 anos. "Ela admitiu que tinha um relacionamento amoroso com o croata e disse ter ouvido ele dizer que tinha R$ 100 mil em casa. Então ela ligou para os comparsas, que foram lá com a intenção de pegar o dinheiro. Os europeus foram torturados de forma cruel", afirmou Daniel Couto, titular da Delegacia Especializada em Atendimento ao Turista (Deatur). A ação foi batizada de operação Luxúria.

Falha na comunicação
Para o delegado, houve uma falha de comunicação, o que acabou levando a jovem a acreditar que existia dinheiro no imóvel. “Como o croata não falava português fluente, creio que ela deve ter entendido errado a informação”, explicou.
As investigações da Polícia Civil apontaram que os suspeitos teriam passado cerca de três horas dentro do imóvel das vítimas, tendo eles chegado pouco depois da meia-noite e saído por volta das 3h do dia 8. Os corpos só foram encontrados pelo caseiro à tarde.
Quando encontrados, os corpos dos estrangeiros tinham mãos e pés amarrados e sacos plásticos cobrindo as cabeças. O croata também tinha um lençol envolto no pescoço e uma bola de meia na boca. Um carro alugado e pertences das vítimas foram levados. O veículo também foi encontrado nesta manhã.
De acordo com o Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep), Ante Stanic e Faik Mekic morreram sufocados - possivelmente vítimas de asfixia. Os laudos, no entanto, ainda não foram concluídos. Material genético coletado sob as unhas dos europeus também está sendo analisado e pode confirmar se houve luta corporal. O resultado deve ajudar a identificar os agressores.
Os dois corpos continuam na sede do Itep, em Natal, que aguarda pelos familiares das vítimas para que estes providenciem as liberações para traslado e sepultamento em seus países de origem. As embaixadas da Croácia e Suécia já foram informadas oficialmente dos crimes estão auxiliando os parentes.
'Muito torturados'

De acordo com o delegado Everaldo Lemos, que no dia do crime esteve no imóvel onde os corpos foram encontrados (a casa pertencia ao croata Ante Stanic), "os criminosos usaram de muita violência" e os estrangeiros "foram muito torturados".
O delegado também deu detalhes de como os corpos foram achados pelo caseiro: "amarraram os braços bem forte e os amordaçaram. Chegaram a usar dois sacos para sufocar os homens e ainda os espancaram para agilizar a asfixia. Sufocaram por falta de ar e pelo sangue que acumulou”.
Ainda segundo o delegado, vizinhos viram mulheres na casa com os europeus. "Eles estavam dando uma festa e, possivelmente, essas mulheres facilitaram a entrada de outras pessoas no local. É uma linha a ser seguida", explicou Lemos.

Situação legal

A Polícia Federal do Rio Grande do Norte confirmou ao G1 que os estrangeiros entraram no Brasil de forma legal. "Eles entraram no país pela cidade do Recife em 14 de janeiro passado, com vistos de turistas. Stanic tem várias passagens pelo Brasil, sempre como turista, e Mekic veio pela primeira vez no ano passado. Nunca houve qualquer queixa contra nenhum dos dois", informou a assessoria de imprensa da PF.

Destaque internacional

As mortes do croata e do sueco repercutiram na imprensa internacional. Pelo menos cinco sites da Croácia, além do Fox News Latino, deram destaque aos assassinatos.
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