LEI DE PROMOÇÃO: Janelas de respeito inteiras para iminentes portas abertas...


A paz não pode ser mantida à força. Somente pode ser atingida pelo entendimento. (Albert Einstein)
O Brasil passa por um momento sério em que as janelas do mundo se abrem para verem como lidamos com questões sociais, principalmente nessa fase onde o brasileiro evoca seu pseudo patriotismo através do sacudir das flâmulas, do pintar de verde e amarelo de muros e rostos, não pela exaltação da nação em si, mas pela paixão pelo futebol.
Nossos conflitos estão alhures de acabar, pois a paixão pelo esporte logo mergulhará novamente no conformismo com as questões que realmente fazem sentido para nossa sobrevivência enquanto sociedade e para a nossa capacidade de enxergar como estará nosso povo daqui a dez anos, vinte ou mais.
À deriva num oceano de problemas sobre saúde, educação e segurança, vivemos como náufragos abandonados à sorte, pulando de um destroço para o outro, garantindo apenas o tempo em que resistir aquele salva vidas temporário.
Uma das necessidades que costumamos esquecer é nossa própria segurança, que é a garantia de nossa sobrevivência. Mas alguns ainda buscam mudanças.
Preocupados com os resultados dos recentes eventos envolvendo a segurança pública no Rio Grande do Norte, principalmente com a crescente escalada nos números dos crimes contra a vida, os policiais militares Eliabe Marques, Roberto Campos e Rodrigo Maribondo, líderes dos praças acampados na Sede da Governadoria, aceitaram o convite para conversar sobre as motivações e anseios que possuem quanto ao movimento.
Depois de uma mentira, toda verdade vira dúvida.
A perspectiva de mudanças nas carreiras policiais no Rio Grande do Norte somente são conquistadas às duras penas, exemplos de outros governos se consolidaram de forma nunca antes vistas nas terras do elefante na Administração Ciarlini, e inúmeras tentativas de argumentação resultaram no descumprimento de promessas, levando à crise ora vivenciada.
Os representantes dos praças lembraram que no final de 2013 um acampamento foi armado para evidenciar a necessidade do Governo Estadual entender que algumas pautas precisavam avançar, no caso, a Lei de Promoção de Praças, que durante o período de duração do acampamento teve sua velocidade de tramitação acelerada como nunca antes, e depois, por descumprimento do governo, voltou a estancar.
Agora, novamente acampados no mesmo local, os praças não creem mais na promessa do executivo, afinal, depois de uma mentira, toda verdade vira dúvida, e não é estranho e nem inédito essa realidade, pois casos semelhantes ocorrem com outras categorias, inclusive policiais.
O problema se arrastou por dois anos após as primeiras negociações com o executivo estadual, provocando outros e novos problemas, agravando ainda mais a quase caótica situação da Segurança Pública do RN. Agora, piorado, ele se acomoda nos braços de uma nova gestão na secretaria de segurança, porém a mesma gestão do executivo estadual, corroendo a credibilidade de qualquer construção social que não possua entre seus construtores, a legítima presença dos operadores de segurança.
Além de toda celeuma já vivida, policiais constantemente sofrem com problemas de saúde decorrentes da ingestão de uma alimentação de péssima qualidade fornecida pelo Governo, problemas de mobilidade com viaturas sucateadas, sendo inclusive motivo de escárnio por alguns insensíveis da própria população que sofre com os crescentes índices de violência.
Amor à verdade
Em detrimento da verdade, direitos vem sendo cerceados, como o pagamento da progressão funcional sancionada pela própria Governadora, promoções não são devidamente efetivadas, decorrendo meses e até anos, para receberem a diferença remuneratória proveniente de uma promoção, férias são suspensas para assegurar eventos previstos há anos, como no caso da própria Copa do Mundo.
Embora o amor à verdade seja muito pregado entre a PMRN, inclusive em seus ordenamentos, o exprimir da verdade, tem sido menos praticado. Sobre as negociações, falta o Comando Geral levar os praças para um entendimento com o Secretário de Segurança, evitar certos desgastes e elucidar a situação que se fomentou no estado, não por culpa dos policiais.
A verdade deve ser utilizada como equilibradora de ações, pois enquanto foi divulgado para mídia que a Lei de Promoção dos Praças seria enviada para a Assembleia Legislativa, outras fontes de dentro do Comando Geral da PM afirmam que ela será enviada para outro lugar para ser analisada, emendada, com suas “gorduras retiradas”, e depois então enviada. Além de não respeitar a informação dada pelo Secretário Eliéser, ela ainda retiraria a participação das entidades que representam os policiais do processo legislativo.
Onde já pairavam o ceticismo e a dúvida, agora paira a desconfiança. Na reunião que o Coronel Araújo teve com os representantes no sábado à tarde, o quadro que foi exposto foi de que a Lei só chegaria à AL em meados do dia 5 de maio, que prisões estariam sendo ensaiadas e articuladas nos bastidores, que repressões aos líderes do movimento seriam evidenciadas, contrariando a política do bom diálogo.
Em conversa com o Secretário Eliéser Monteiro, essas não foram sequer possibilidades aventadas.
Portas abertas e janelas inteiras
O ideal para as negociações não está em discursos desencontrados, mas em homens e mulheres firmes em suas verdades. Para Eliabe, Maribondo e Roberto, não há nenhuma intenção em desafiar o Comando da Polícia Militar, nem o Secretário e nem a Governadora. Num dos momentos mais interessantes de nossa conversa, eles reiteraram que nunca colocaram faixas ofensivas à Governadora Rosalba, nunca gritaram que ela deveria deixar o cargo e nunca a ofenderam em nenhuma ocasião, e estendem esse respeito ao Secretário Eliéser em forma de um voto de confiança para um gestor que está pouco mais de um mês no cargo.
General Eliéser Monteiro também está em busca de soluções e avançando mais em um mês de trabalho do que seu antecessor conseguiu em mais de três anos.
Em ambos os lados todos querem paz. É um momento importante de resgatar o equilíbrio na segurança pública, contornando problemas e trabalhando em prol de uma sociedade segura e com nossos guardiões, os policiais, trabalhando satisfeitos e de acordo com as estratégias superiores.
As janelas estão inteiras na construção de um novo ambiente de entendimento, pois ninguém atirou pedras em ninguém, agora, somente é preciso manter as portas abertas.
_______________
SOBRE OS AUTORES:
Ivenio Hermes é escritor Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e Ganhador de prêmio literário Tancredo Neves. Colaborador e Associado Pleno do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Consultor de Segurança Pública da OAB/RN Mossoró. Pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial.
Glaucia Paiva é Policial Militar. Licenciada em História e estudante do 4º Período de Direito.
Kezia Lopes é professora, blogueira e ativista de direitos sociais.
_______________
DIREITOS AUTORAIS E REGRAS PARA REFERÊNCIAS:
É autorizada a reprodução do texto e das informações em todo ou em parte desde que respeitado o devido crédito ao(s) autor(es).
HERMES, Ivenio; PAIVA, Glaucia; LOPES, Kezia. Janelas de Respeito Inteiras para Iminentes Portas Abertas. Disponível em: < http://j.mp/1gLQ5nJ >. Publicado em: 20 abr. 2014.
Postagem Anterior Próxima Postagem