Pasadena: compra pela Petrobras já passa dos US$ 1,3 bilhão e consultorias alertaram o risco...


Richard Carson/Ag.Petrobras
Por Josias de Souza
A Petrobras contratou em 2006 duas empresas de consultoria para avaliar a compra da refinaria texana de Pasadena: a BDO e o Citigroup. Hoje, os pareceres dessas empresas são evocados pelo governo e seus aliados no Congresso para defender a higidez do negócio. O teor dos documentos, porém, não combina com o uso que se faz deles.
Em verdade, os textos deixam claro que não houve tempo nem dados suficientes para uma avaliação precisa. E alertam para os riscos. A despeito disso, a Petrobras adquiriu a refinaria, numa transação que se revelaria ruinosa. Os relatórios confidenciais das consultorias foram exibidos na noite desta terça-feira (1º) nos telejornais da Rede Globo.
O parecer da BDO foi repassado à Petrobras em janeiro de 2006, um mês antes da compra da refinaria de Pasadena. A empresa analisou dados contábeis, incluindo os valores de estoques e equipamentos orçados pela Astra Oil, à época dona de 100% da refinaria. Os auditores apontaram 40 tópicos questionáveis. Listaram pergunrtas sem respostas.
Por exemplo: a Astra Oil informara que os equipamentos da refinaria valiam US$ 33 milhões. Mas não informava quais eram esses equipamentos, quantos havia em Pasadena, o tipo de maquinário e o tempo de uso. Os auditores anotaram que era preciso obter uma lista detalhada das máquinas para verificar se a cifra fazia nexo.
O relatório da BDO questionou também o valor do estoque de óleo da refinaria: US$ 189 milhões, segundo a Astra Oil. De acordo com os auditores, o contrato não detalhava a quantidade de óleo disponível no estoque. De resto, o documento faz menção a pendências judiciais da refinaria: disputas trabalhistas e exigências de adequação ambiental.  Sustentou que as querelas poderiam resultar em novas despesas. E recomendou a fixação de limites.
O outro relatório, do Citigroup, está datado de 1° de fevereiro de 2006, mesmo mês em que a compra de Pasadena foi aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras, com o voto favorável de todos os conselheiros, inclusive de Dilma Rousseff, que presidia o colegiado. O documento tem três páginas. São dez parágrafos, nove dos quais dedicados às ressalvas.
“Nós não fizemos e não nos foi fornecida uma avaliação independente”, anotaram os auditores. “Nós não fizemos inspeções na refinaria de Pasadena, no Texas”. […] E nossa opinião é baseada, necessariamente, em dados fornecidos para nós”. Os técnicos informam no texto que conversaram apenas com diretores e representantes da Petrobras. A certa altura os técnicos dizem confiar “que a Petrobras não tenha omitido informações relevantes…”.
Depois de enumerar as ressalvas, os auditores do Citigroup limitaram-se a anotar, no último parágrafo, que o preço da refinaria era justo do ponto de vista financeiro. Não opinaram sobre os termos da transação. E realçaram que o relatório não poderia ser divulgado sem autorização.
Munido dessas avaliações precárias, o Conselho de Administração da Petrobras aprovou a compra de 50% da refinaria em 2006. Dali a dois anos, após desentendimentos com a sócia belga Astra Oil, a estatal brasileira comprou a outra metade do empreendimento. No total, enterrou no Texas cerca de US$ 1,3 bilhão. Em 2005, a refinaria valia US$ 42,5 milhões.
Há duas semanas, Dilma Rousseff foi instada a explicar o aval que deu à operação. Em nota, alegou que se baseou num resumo incompleto feito pelo então diretor Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró. Um documento, segundo ela, “técnica e juridicamente falho”. Omitia cláusulas do contrato que, “se fossem conhecidas, seguramente não seriam aprovadas…”.
Fica agora no ar uma nova interrogação: Dilma não se deu ao trabalho de deslizar o olhar pelos relatórios das firmas de consultoria, crivados de ressalvas e alertas?
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