SEGURANÇA PÚBLICA DO RN - Comunidades bancam estruturas...


Nadjara Martins - repórter


“A segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos.” O artigo 144 da Constituição Federal brasileira tem sido levado ao pé da letra por moradores de alguns bairros da capital potiguar. Saturados pela criminalidade crescente – somente em em 2013 foram registrados 2789 assaltos a transeuntes na capital potiguar – e a falta de estrutura da segurança pública, moradores da zona sul de Natal se articularam para bancar o funcionamento dos postos de polícia. Nos bairros de Cidade Satélite e Morro Branco, a população banca desde a reforma dos postos policiais, até a alimentação do efetivo e a manutenção das viaturas.

Atualmente, o 5º Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo patrulhamento da zona sul de Natal, conta com apenas sete viaturas para cobrir uma população de quase 200 mil habitantes, distribuída pelos sete bairros da região. O batalhão, que já chegou a contar com 11 viaturas, possui, hoje, quatro veículos quebrados. Os carros, pertencentes à Polícia Militar, estão encostados pela falta de equipamentos básicos, como bateria, marcha, e motor.
CedidaMorro Branco: moradores reformaram trailer da Polícia MilitarMorro Branco: moradores reformaram trailer da Polícia Militar

Por causa do baixo número de carros, uma viatura é responsável por fazer o patrulhamento, por vezes, de vários conjuntos e bairros. Já o efetivo do batalhão, que conta com 342 policiais, divididos em três companhias, sofre com a falta de manutenção de viaturas e equipamentos. O comando do batalhão, por sua vez, afirma que não dispõe de policiais suficientes para equipar todos os postos policiais da zona sul.

O bairro de Cidade Satélite,  que possui 30 mil habitantes, conta com apenas uma viatura para o patrulhamento. O bairro possui duas viaturas, mas uma só é utilizada a cada dois dias por causa da falta de policiais no posto da 3ª companhia do Satélite. O único veículo  também faz a ronda nos conjuntos Bancários, San Vale e Pitimbu.

Em termos de estrutura física, apenas um dos três postos policiais do bairro estão abertos. A unidade foi reformada e equipada pela população no início deste ano, após os índices de violência terem aumentado significativamente na região: somente de janeiro para cá, foram registrados cinco homicídios. O índice de furtos chegou a quase dez por dia, segundo policiais do comando.

De acordo com o presidente da Associação de Moradores da Cidade Satélite (Amocisa), Anísio Barbosa, os moradores gastaram R$9 mil com a reforma do posto policial da etapa dois. Atualmente, a alimentação dos policiais e manutenção do é dividida entre os moradores. “Fizemos uma audiência pública em fevereiro e o comandante da PM disse que disponibilizaria os policiais se déssemos a estrutura. Já avançamos bastante”, destacou o presidente. O posto agora conta com  seis policiais, que trabalham em escala 48h.

O comandante do 5º batalhão, major Rodrigues Barbosa, admite que falta estrutura para o patrulhamento da zona sul, mas informa que novas viaturas estão sendo adquiridas para o comando da PM. Segundo ele, 150 viaturas, modelo furgão, já estão em fase de pintura — no último processo que antecede entre os batalhões. O major também defende a medida dos moradores em fazer parcerias com a PM. “A segurança pública é dever do Estado, mas direito e responsabilidade de todos. Particularmente eu gostaria que o Governo do Estado fizesse o que lhe compete formalmente, mas os moradores também estão fazendo a parte deles”, assinalou.

Em Morro Branco, a população conseguiu levantar R$25 mil para montar uma estrutura completa para a Polícia Militar no conjunto habitacional. Os moradores resgataram um trailer e uma viatura, reformaram e implantaram um posto no descampado da avenida Brigadeiro Gomes Ribeiro. No local, os moradores também realizam eventos, como noites de cinema ao ar livre.

O comandante da Polícia Militar, coronel Francisco Araújo, afirma que as novas viaturas serão distribuídas entre os batalhões da cidade nos próximos 30 dias. Ele também admite a dificuldade de manutenção das viaturas, ocasionada pela dívida da PM com as cinco oficinas que prestam serviço de manutenção. “Muitas vezes o pagamento atraso, porque é verba pública. Mas já quitamos uma dívida de R$2,2 milhões com relação aos débitos do ano passado”, informou. Ele não soube estimar qual era a dívida atual da PM com os fornecedores.
Tribuna do Norte
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