Polícia prende diretor da Match envolvido com venda ilegal de ingressos da Copa...


Raymond Whelan é diretor da empresa, escolhida pela Fifa para fornecer ingressos para a Copa do Mundo e acomodação para atletas e dirigentes durante o Mundial

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação








A Polícia Civil do Rio cumpriu, na tarde desta segunda-feira, no Copacabana Palace, na Zona Sul, um mandado de prisão na suíte de Raymond Whielan, o diretor executivo da empresa Match, que presta serviços para a Fifa. Whielan – que é inglês e tem 64 anos – é suspeito de chefiar quadrilha internacional de cambistas, que agia durante a Copa do Mundo. Na suíte dele foram encontrados mais de cem ingressos para jogos da Copa, um computador, um celular e documentos. Todo o material foi apreendido. A prisão preventiva, já expedida pela Justiça, faz parte da investigação que já havia prendido 11 pessoas. O inglês é acusado de cambismo e formação de quadrilha.
O delegado Fábio Barucke, titular da 18ª DP (Praça da Bandeira) e responsável pelo caso, bem como o promotor Marcos Kac, da 9ª Promotoria de Investigação Penal, acompanharam a ação no hotel, que durou mais de 50 minutos. O inglês foi retirado do hotel pela porta dos fundos e foi levado para a 18ªDP.
Mais cedo, a Match Hospitality divulgou uma nota informando que vai investigar as alegações de revenda ilegal de pacotes de ingressos para camarotes e primeira classe pelo grupo liderado pelo franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana. Em nota, Match Hospitality, que é ligada a Phillipe Blatter, sobrinho do presidente de Fifa, Joseph Blatter, afirma que vai cancelar todos os ingressos comprados pela empresa de Fofana, a Atlanta Sportif Management, para os próximos jogos da Copa.
“Como cliente da Match Hospitality, Atlanta Sportif comprou 105 pacotes de ingressos hospitality no total para sete partidas da Copa do Mundo de 2014, no valor de US$ 121.750. Como parte do acordo de venda do pacote hospitality, a empresa Atlanta Sportif concordou com o regulamento de venda, inclusive a proibição de revender qualquer pacote hospitality comprado pela empresa”, explica trecho da nota da Match.
Ainda de acordo com a Match Hospitality, os bilhetes encontrados com os nomes das empresas Reliance Industries Ltd., Jet Set Sports e Pamodzi, que também podem ser cancelados, dependendo das investigações. A Match afirmou ainda que pretende prestar qualquer assistência para a investigação policial, e pode tomar medidas judiciais contra as empresas envolvidas.
Empresa com ramificações nas áreas de hotelaria, camarotes, ingressos para o público em geral e transporte da família Fifa, além de tecnologia da informação da Copa do Mundo, a Match pertence a sete pessoas da família Byrom, de origem mexicana: o diretor-geral Jayme, seu irmão Enrique, além de Carol, Harry, Ivy, Robyn e Aracelli; os outros dois donos são o diretor de marketing da Byrom, John Parker, e a esposa dele, Ingrid Parker. A subsidiária Match Services oferece serviços de ingressos ao público em geral e hospedagem. Já a Match Hospitality cuida de camarotes, ingressos de primeira classe, suítes, alimentação, transporte e outros mimos para clientes VIPs e empresas.
Philippe Blatter, sobrinho de Blatter, é presidente e CEO da Infront Sports & Marketing, desde dezembro de 2005. A Infront é uma das quatro acionistas da Match. É a minoritária. A Infront mexe com TV e é responsável pelo contrato com a HBS. Como acionista minoritária, não participou do contrato da Match com a Fifa. A Infront é detentora dos direitos de transmissão e marketing da Fifa há muitos anos. Isso é público, não há novidade alguma nisso.
A Match detém os direitos de comercialização destes serviços para as Copas de 2010 e 2014 e, em 1º de novembro de 2011, ganhou as concessões também para as da Rússia-2018 e do Qatar-2022, as Copas das Confederações de 2017 e 2021, além dos Mundiais Femininos de 2019 e 2023, que nem sede ainda têm. O contrato, renovado até 2023, prevê garantia mínima de US$ 300 milhões (R$ 663,8 milhões) para a Fifa, além de um percentual nos negócios com ingressos e pacotes de hospitalidade.
A Match Services tem sede em Zurique, mesma cidade da Fifa, com escritórios em Johannesburgo e no Rio de Janeiro. Os irmãos Byrom, através da Byrom Holdings plc, têm 100% do controle acionário. Já na Match Hospitality, a Byrom Holdings plc detêm 65% das ações e são sócios majoritários. Outros acionistas são a japonesa Dentsu Inc. (5%), a suíça Infront Sports & Media AG (5%), o sul-africano Bidvest Group Limited (5%) e o britânico Winterhill Investments Limited (20%).
FIFA ENTREGA LISTA DE TELEFONES À POLÍCIA
Nesta segunda-feira, a Fifa entregou ao delegado Fábio Baruck a lista com todos os telefones usados pela entidade durante esta Copa do Mundo. Foi a partir das escutas feitas pela polícia das ligações realizadas por Lamine Fofana, foi possível identificar o diretor que estaria facilitando os ingressos da Copa do Mundo para o cambista. O delegado acrescentou que um desses nomes bate com as informações passadas pelo advogado paulista José Massih, que foi preso na semana passada e forneceu nome de um integrante da Fifa envolvido no esquema dos cambistas. O relatório havia sido requisitado durante a investigação da Operação Jules Rimet sobre o mercado negro de ingressos. .
— Estamos colaborando integralmente com as investigações. Isso inclui o fornecimento da lista telefônica e qualquer serviço nesses números. Isso é muito sério, e qualquer violação será investigada e sancionada. Qualquer pessoa fazendo algo errado será punida, se a evidência for fornecida — afirmou a porta-voz da Fifa, Delia Fischer, durante coletiva no Maracanã.
Lamine Fofana fez mais de 900 ligações para um dos celulares oficiais de uso da Fifa no Brasil nos dois últimos meses e ia pessoalmente ao Copacabana Palace negociar a aquisição dos bilhetes. As informações foram divulgadas pelo “Fantástico”, da Rede Globo.
A reportagem exclusiva sobre a operação Jules Rimet — que prendeu 11 integrantes do grupo, que atuava no Rio e em São Paulo — mostrou também que a quadrilha chegou a tentar corromper policiais da 18ª DP (Praça da Bandeira). Com autorização da Justiça, os inspetores da Polícia Civil montaram uma armadilha para flagrar o suborno. O “Fantástico” mostrou um vídeo no qual um integrante do grupo oferece dinheiro e ingressos a um inspetor.
A reportagem mostrou ainda um caderninho onde era registrada a contabilidade de Lamine, apreendido na casa do empresário, num condomínio de luxo na Barra. Com um adesivo do escudo da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na capa, o livro mostra, por exemplo, a detalhes da venda clandestina de ingressos para o jogo de abertura da Copa, entre Brasil e Croácia.
A quadrilha negociou 52 ingressos VIP, que dão direito a lugares reservados em camarotes, com direito a serviço de alimentação e bebida. Tudo cotado em dólar.
Fonte: O Globo
Postagem Anterior Próxima Postagem