Reforço policial não diminuiu homicídios...

Igor JácomeRepórter

A presença ostensiva de policiais e forças militares nas ruas de Natal enquanto sediava quatro jogos da primeira fase da Copa do Mundo trouxe mais tranquilidade para o dia-a-dia da técnica de enfermagem Joselice Barbosa do Nascimento, de 66 anos, que, apesar de não assistir a nenhuma partida na Arena das Dunas, achou a capital mais segura. No entanto, passado o período, ela considera que “tudo está voltando a ser como antes”. Segundo a Secretaria de Segurança do Estado, os reforços tecnológico e humano ajudaram na redução vertiginosa dos índices de criminalidade neste período. Mas no final de semana passado - o seguinte à desmobilização de grande parte do aparato para o evento - quase 20 homicídios foram registrados somente na região metropolitana. Enquanto isso, os gestores tentam driblar problemas como a falta de efetivo para manter policiamento na rua, investigar crimes e dar sensação de segurança da população.

O relatório oficial divulgado pela Sesed após a Copa apontou  que o número de Crimes Violentos Letais Intencionais (homicídios) reduziu em 47%, comparando-se os meses de maio e junho deste ano, na Região Metropolitana de Natal, caindo de 86 para 45 casos. Dados como esse reforçam a sensação que a população, como Joselice, teve sobre a segurança durante a época da Copa. Porém, o que acontece agora que o trabalho ostensivo deixa de ter quase 3 mil militares/dia e volta aos 800/dia do efetivo normal? E agora que os reforços nas polícias Civil, Federal, Rodoviária Federal, além da Marinha, Exército e Aeronáutica deixam as ruas?
Rayane MainaraNos dias de jogos da Copa em Natal, o policiamento diário era feito por 3 mil homens. Após o mundial, o efetivo volta para 800/diaNos dias de jogos da Copa em Natal, o policiamento diário era feito por 3 mil homens. Após o mundial, o efetivo volta para 800/dia

O especialista em gestão de Segurança Pública Ivênio Hermes, destaca que existem duas formas de alcançar a chamada sensação de segurança. “A primeira é promover a sensação. A segunda é promover a própria segurança”, pontua. “Quando você só mostra, só faz propaganda de operações e situações exitosas, você promove uma sensação de segurança, mas, para alguns, não para todos.  Quando você promove segurança pública, ai você apresenta resultados à população. Essa é a forma correta”, acrescenta.

As principais ferramentas para isso seriam a presença do policiamento fardado na rua e as efetivas investigações da Polícia Civil. Porém, os dois setores estão defasados. A Sesed confirma que dos mais de 13 mil policiais militares que o Estado deveria ter por lei, o efetivo não chega a 10 mil. A Polícia Civil opera com apenas um terço do ideal, cerca de 1500 homens e mulheres. Quando  anunciou a interiorização da polícia judiciária em 2011. O comandante da Polícia Militar bem como o delegado geral concordam que um efetivo maior seria necessário para melhorar o quadro da segurança. 

Ele ainda opina que as forças mobilizadas durante o evento formaram um “bolsão de segurança” nas regiões onde as torcidas, demais turistas e seleções estavam concentrados. Dessa forma, a criminalidade migrou para outras regiões. “Quando se aplica reforço setorizado, os setores marginais recebem essa demanda e foi o que aconteceu”, opina, antes de questionar a forma como o comparação de crimes, entre períodos, foi feita.

De acordo com o especialista, que é membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no caso de eventos de grande porte, devem ser avaliados os períodos anterior e posterior. De acordo com levantamento realizado para o Conselho Estadual de Direitos Humanos e Ministério Público Estadual, durante os 13 dias entre a estréia da Copa (12 de junho) e o último jogo em Natal (24 de junho), 22 homicídios foram registrados somente na capital. Nos 13 dias imediatamente anteriores, foram 13 mortes. Nos posteriores, 20. 
Tribuna do Norte
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