Delegados negam subnotificação...

Pedro Andrade
repórter

À frente das únicas delegacias que atendem o terceiro maior município do Estado, os delegados titulares dos 1º e 2º Distrito Policial de Parnamirim discordam dos números apresentados pelo Ministério Público referente às subnotificações de homicídios em 64 municípios do Rio Grande do Norte. Ronaldo Gomes e Antônia Deusa Alves Martins dos Santos, titulares do 1ª e 2ª DP respectivamente, garantem que os 82 inquéritos em andamento correspondem a todos os homicídios ocorridos na cidade e que o principal obstáculo encontrado é a população evitar prestar depoimento sobre os casos. De acordo com o MP, dos 41 homicídios registrados e monitorados pelo órgão em Parnamirim de janeiro a abril, três chegaram ao Judiciário.
Magnus NascimentoNa 1ª DP de Parnamirim, 75 dos 298 inquéritos abertos este ano dizem respeito a homicídio dolosoNa 1ª DP de Parnamirim, 75 dos 298 inquéritos abertos este ano dizem respeito a homicídio doloso

No 1ª DP de Parnamirim, 75 dos 298 inquéritos instaurados entre janeiro e agosto deste ano dizem respeito a homicídio doloso ocorridos em Parnamirim, exceto o bairro de Nova Parnamirim. Os outros sete foram registrados no 2º DP, que atende o bairro de Nova Parnamirim, Pium e Pirangi do Norte. Apesar de não saber precisar quantos foram remetidos ao Judiciário, o delegado Ronaldo Gomes garante que todos foram registrados e estão sendo investigados. “Em todos os casos de morte foram instaurados inquéritos, mas é necessário participação da população além das provas materiais”, afirma.

Mesmo reconhecendo defasagem da Polícia Civil, o delegado afirma que o maior problema no andamento dos casos não é estrutural. “A polícia está defasada e não só aqui, em todo o RN. Mas o principal fator é o pessoal não querer testemunhar com medo de virar uma nova vítima”, garante. Ronaldo Gomes atribui esse medo aos altos índices de violência que o Estado vem apresentando. 

Segundo a delegada Antônia Deusa dos Santos, esse fator também atrapalha o andamento das investigações já em curso. Neste ano, sua delegacia abriu sete inquéritos por homicídio, dos quais três foram solucionados com prisão dos acusados e outros quatro estão em andamento.

“Se preciso de tempo para investigar determinado homicídio junto com outros crimes, isso vai demorar mais. Faltam ações preventivas contra a violência para impedir que esses casos aumentem, além da consciência da população para procurar os órgãos de segurança”, avalia.

Devido à demanda, Ronaldo Gomes conta que o 1º DP trabalha com uma equipe voltada apenas aos homicídios. “A delegacia tem 30 policiais no quadro, divido em duas equipes, uma voltada para os homicídios e a outra para o restante dos crimes”, explicou. A equipe de um delegado, um escrivão e quatro agentes para os homicídios está atualmente desfalcada, segundo Gomes, porque após a saída do segundo delegado em julho ainda não foi reposto. Mas, a expectativa é que haja uma nomeação este mês.

Tanto Antônia Deusa quanto Ronaldo Gomes afirmam que o quadro de pessoal está aquém do ideal, mas não estipulam o quantitativo necessário. “Hoje são 13 agentes, uma delegada, uma escrivã, um chefe de investigações e duas viaturas. Não é o ideal, mas é suficiente”, disse Antônia Deusa. Já o titular do 1º DP, afirma que isso é uma “questão política” e que prefere não se envolver.

O relatório referente aos homicídios do primeiro quadrimestre de 2014 foi apresentado pelo Centro de Apoio às Promotorias de Justiça Criminal (Caop) no dia 26, apontando 41 homicídios no período em Parnamirim, dos quais três chegaram à Justiça. Segundo o MP, o documento foi motivado pela diferença entre o número de inquéritos abertos e o de crimes computados. 

Entre janeiro e abril deste ano foram 550 vítimas de execução nos 64 municípios monitorados. Desse total, apenas 135 - dos quais 12 são atos infracionais cometidos por crianças e adolescentes - chegaram ao Poder Judiciário após instauração de inquérito policial. Em 2013 foram: 299 inquéritos policiais instaurados contra 1.600 homicídios que ficaram sem investigação. A reportagem tentou durante a manhã e parte da tarde entrar em contato com a promotora Luciana Andrade, coordenadora do Caop, mas não obteve retorno.
http://tribunadonorte.com.br/noticia/delegados-negam-subnotificaa-a-o/291957
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