Em Mossoró: Pai vende pastilhas, confeitos, canetas, para ajudar na educação dos filhos

O pai do estudante, Márcio Último, está vendendo pastilhas, canetas e outros produtos, a fim de comprar, para o filho, os itens de que precisa: um notebook, mochila, os livros de eletromecânica, roupas e um par de tênis.




Em uma casa simples e de poucos móveis, um jovem de 18 anos e muitas esperanças atende a reportagem na porta de sua residência. O sorriso franco, mas tímido, esconde um estudante concentrado. Sobre a mesa da casa, junto a uma parede rachada pelas intempéries do tempo e o serviço de um pedreiro amador, os livros de Song Jong Márcio Simioni da Costa descansam das muitas leituras que seu dono faz, todos os dias.

Song – um nome coreano em homenagem ao reverendo Moon – famoso líder, já falecido, de uma associação religiosa que ajudou seus pais em São Paulo – está sentado sobre um sofá simples e nos oferece, com uma educação britânica, água para matarmos a sede: “Os senhores aceitam um copo d’água?”

Encostado à parede, um violão, que ele comprou com o dinheiro de vendas na infância – “comecei a vender umas coisas e fui juntando o dinheiro, até que comprei o violão, que era um sonho antigo, pois adoro música”, diz o estudante de Engenharia Elétrica, curso que começará em julho, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal.

Song Jong é um exemplo de superação, juntamente com os pais: Sandra Simioni e Márcio Último que, em Mossoró, encontraram um porto-seguro para, ao menos, educar os dois filhos. “Meu irmão mais novo passou para Eletrotécnica, no IFRN. Mesmo curso que eu passei, em primeiro lugar, e o qual concluí com êxito, inclusive àquela época tive uma bolsa paga pelo IFRN através da Petrobras. Com essa bolsa, não me envergonho de dizer, paguei muitas contas da família e também alimentei meu irmão. Olha, me emociono em dizer que o IFRN desta cidade praticamente me criou nesse período em que estudei lá. Sou muito grato a todos, inclusive às pessoas que me compraram canetas, chaveiros e tudo isso que vendemos até hoje para bancarmos nossas contas e também ajudarmos nos estudos de meu irmão, a fim de termos um futuro melhor”, fala o estudante, com os olhos lacrimejando.

Longe da imagem de cansado dos momentos difíceis pelos quais passou, Song estuda incansavelmente. Dedica toda a manhã para o estudo e trabalhos domésticos. “Varro a casa, faço o almoço, enquanto meus pais estão na rua, batalhando. Minha mãe é ASG na Uern, mas, devido à terceirização dos serviços, pode perder o emprego a qualquer momento. Meu pai já é um senhor de idade, e trabalha vendendo pastilhas, confeitos, canetas. Com esse dinheiro, do trabalho formal de minha mãe – que não é muito – e das vendas avulsas de meu pai, é que vem o sustento da casa, enquanto eu e meu irmão estudamos afinco”, diz, olhando para a estante da sala, com o porta-retratos em que o mostra vestido em trajes de gala, no dia em que concluiu Eletrotécnica no IFRN. “Fui primeiro lugar à época. Foram anos muito bons de estudos contínuos. Nunca parei de estudar, um dia sequer. Todos os dias, estudo de manhã, de tarde e de noite. Quero dar uma vida melhor aos meus pais, que já estão se cansando dos trabalhos e da existência dura que sempre levaram”, frisa.



A BATALHA PARA ESTUDAR          

Cedo, os pais saem para o trabalho e o irmão para o IFRN, seguindo os mesmos passos de Jong.

A rotina começa com estudos e arrumação da casa. “Faço o almoço. Sei que não é lá essas coisas, mas creio que dá para o gasto!”, brinca.

Daí em diante, Song pega dos livros e estuda, estuda muito. Foi assim que passou para Engenharia Elétrica, na UFRN, onde pretende começar, a partir de julho. “Para pleitear a residência universitária, no início do julho já devo estar na cidade e aguardar ser contemplado. Nós temos alguns parentes na capital, mas sabemos que eles não têm condições de nos ajudar nesse sentido. Então, vou pleitear a residência ou arranjar um lugar para ficar, enquanto as coisas melhoram e eu tenha acesso ao benefício”, fala, esperançoso, o jovem estudante que pretende ingressar, logo depois da faculdade, no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

O pai, Márcio Último, está vendendo pastilhas, canetas e outros produtos, a fim de comprar, para o filho, os itens de que precisa: um notebook, mochila, os livros de eletromecânica, roupas e um par de tênis. O esforço do pai emociona aqueles que conhecem a história da família simples e que possui dois jovens talentosos à procura de um futuro melhor. “Espero que ser pobre ou estar pobre sirva, ao menos, para que eu consiga essa residência na UFRN”, fala, em tom humorado. “Os livros são sobre Análise de Circuito, Eletrônica Digital, Eletrônica Analógica e Instalações Prediais”, comenta Song, relatando que o último orçamento feito por ele, com base nas publicações que estavam disponíveis em uma biblioteca da cidade, somavam cerca de R$ 300,00.

Emocionado, Song Jong comenta sobre os pais. “Meus pais são dois exemplos para mim e para meu irmão, que estamos estudando, graças ao empenho deles, que querem um futuro melhor para nós. Vejo em meu pai um exemplo. Ele mesmo é um estudante contumaz. Sabe falar Inglês com certa fluência e Espanhol. Chegou a ingressar e fez alguns períodos do curso de Letras, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, mas não concluiu. Meu pai sempre nos incentivou a estudar, sempre e sempre. Meus pais são exemplos muito fortes nas nossas vidas”, salienta, emocionado, o jovem de 18 anos e muitos sonhos e metas a alcançar…


Fonte: Gazeta do Oeste

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