Policial morto por traficantes tentava tranquilizar a mãe sobre trabalho: ‘Lá é calmo, não se preocupa’

Morador da comunidade da Coreia, em Mesquita, na Baixada Fluminense, Rodrigo Ribeiro Pinto, de 34 anos, pretendia, caso estivesse de folga, passar a noite de Ano Novo com a família em Bento Ribeiro, Zona Norte do Rio, na casa de uma tia. É provável que o soldado levasse a mulher e os dois filhos, de 5 e 8 anos, no carro popular recém-comprado, parcelado a perder de vista. 
Rodrigo com a mulher e o filho
Os planos, porém, morreram junto com o policial, na última segunda-feira, após um ataque de traficantes contra a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Jacarezinho, comunidade também na Zona Norte.

Lotado há poucos meses na UPP, depois de passar pelo 20º BPM (Mesquita) e pelo 15º BPM (Duque de Caxias) nos dois anos de corporação, Rodrigo fazia questão de tranquilizar os temores da mãe em relação à sua segurança. “Lá é calmo, não se preocupa”, repetia, sem detalhar a convivência cotidiana com a violência.

— É claro que não apaga a dor, mas me consola saber que ele morreu fazendo o que amava. Eu pedi para que ele não entrasse na PM, tinha muito medo. Mas não teve jeito: era o sonho dele — lembra a cuidadora de idosos Odete Alves Ribeiro, de 62 anos.
Antes de ser policial, Rodrigo passou oito anos como paraquedista no Exército — um deles na Missão de Paz da ONU, no Haiti. Depois, enquanto estudava para ingressar na PM, trabalhou como segurança. Dedicado a proteger vidas, perdeu a dele sem chances de defesa, a instantes do fim de seu turno.

Rodrigo na Missão de Paz da ONU no Haiti
Rodrigo na Missão de Paz da ONU no Haiti Foto: Álbum de família

Último dia com mulher e filhos
Na véspera de sua morte, Rodrigo passou o domingo com a esposa e os filhos. De manhã, levou a mulher, a manicure Tatiane José de Paula, de 30 anos, para atender uma cliente. Enquanto aguardava, brincou com as crianças em uma pracinha próxima. Antes de voltar para casa, uma parada para degustar cachorros-quentes em família.
— Minha maior dor é pelo meu filho mais novo, de 5 anos. Ele era a paixão do pai, os dois não se desgrudavam. O Rodrigo sequer bebia. Nas folgas, ficava vendo filme ou brincando com as crianças — conta Tatiane, emocionada.

Rodrigo fardado, já na PM
Rodrigo fardado, já na PM Foto: Álbum de família

A última vez em que a manicure viu o marido com vida foi pouco antes das 5h de segunda-feira, quando o soldado saiu para trabalhar. Ao longo do dia, nenhuma das várias mensagens enviadas para Rodrigo foi respondida.
— Estávamos juntos há dez anos. Nos conhecemos quando eu trabalhava numa pizzaria. Ele era cliente, pediu meu telefone e saímos. Agora, não vou mais vê-lo — desabafa.

Odete Alves Ribeiro, mãe de Rodrigo
Odete Alves Ribeiro, mãe de Rodrigo Foto: Urbano Erbiste

‘Eu pedi para não me dizer, não queria saber’
Depoimento de Odete Alves Ribeiro, de 62 anos, mãe de Rodrigo
“A gente ouve todo dia, lê no jornal sobre tiroteio, policial morrendo, UPP sendo atacada... Eu ficava apavorada, e ele me acalmando. Quando recebi a notícia, estava trabalhando. Um parente veio me contar e me pediu para sentar. Na mesma hora, entendi o que era, pedi para não me dizer, falei que não queria saber. É muito triste. Eu perdi meu filho. Meu marido está inconformado, chora a toda hora. Mas a gente precisa seguir em frente, né? Temos outra filha, e agora os nossos netos.”



Fonte: extra
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