Governo não pretende ceder à pressão dos servidores em greve

Novo secretário de Administração afirma nesta entrevista que o Estado ainda não tem folga fiscal para conceder reajustes.

Por Diógenes Dantas
Foto: Gerlane Lima
Recém empossado na Secretaria Estadual de Administração e Recursos Humanos, José Anselmo de Carvalho assume, no lugar de Manoel Pereira, uma missão espinhosa. Pelo menos dez categorias da administração direta e indireta pressionam o Estado, através de greve. As reivindicações vão desde reajustes salarias a melhores condições trabalho. O Estado se mantem firme em não ceder, os servidores também. Nesta entrevista, o novo auxiliar da governadora Rosalba Ciarlini (DEM), deixa claro que o impasse permanecerá enquanto o movimento não recuar.

Diógenes Dantas – O senhor assumiu o cargo em um momento delicado, quando várias categorias estão em greve no Estado. Qual o panorama atual da administração?

JA
– Isso é verdade. Tomei posse atendendo a um convite da governadora Rosalba Ciarlini, nesse momento difícil. Mas quero destacar que todo movimento e reivindicação dessas categorias são legítimos, além da depressão que se encontra a remuneração da maior parte dos servidores do estado do Rio Grande do Norte. Porém, é indiscutível a situação caótica em que se encontram as finanças do Estado. Conjugar esssas duas situações de modo que haja entendimento e compreensão das limitações jurídicas é que não é fácil, mas com diálogo permanente, com a tentantiva de convencimento com argumentos sólidos é que a gente espera que haja uma solução para a paralisação parcial dos serviços.

DD - O governo sofre pressão de quantas categorias atualmente?

JA
– Na quarta-feira, eu e o secretário Paulo de Tarso nos reunimos com representantes de dez categorias das administrações direta e indireta.

DD – O seu antecessor falava em 14 categorias.
Foto: Gerlane Lima


JA – Na reunião, no salão vermelho tinham representantes de dez. Nós conversamos com cerca de 15 pessoas, e parte foi a retomada de outros diálogos que o meu antecessor já vinha conduzindo. Nós reafirmamos todos os dados e também destacamos essa impossibilidade jurídica que o estado tem hoje, acima de qualquer outra, de atender da forma como eles entendem o cumprimento dos planos de cargos e salários que tanto falam. Na lei de cada um desses planos o legislador estadual fez questão de deixar claro que o atendimento ou cumprimento daquela lei seria condicionado ao cumprimento do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. Todos eles disseram que eram cientes disso, e confirmaram que já sabiam que há alguns anos o estado vinha descumprindo a LRF Então eu os questionei por isso. Como eles sabiam e continuavam cobrando?

DD – O governo está abrindo os números para as categorias?

JA
– Os dados que são públicos, inclusive, estão no portal da transparência, serão divulgados no dia 31 deste mês. Será o demonstrativo do primeiro quadrimestre do ano.

DD – Recentemente em entrevista a uma TV local, o procurador Miguel Josino dizia que o Estado estava próximo de sair desse limite, o senhor confirma isso?

JA
– Não. O que a Secretaria de Planejamento diz é que o limite total legal é de 49% do Poder Executivo. A Lei de Responsabilidade Fiscal criou o limite prudencial que é 90% desses 49%.

DD – Como se fosse um alerta?

Foto: Gerlane Lima

JA – Isso. Quando ultrapassa esse limite, está restrito a uma série de medidas, todas que impactem em despesas com pessoal, ou seja, o Estado não poderia gastar – em números redondos – acima de 44% da sua receita corrente liquida com pessoal. O que deve ser divulgado, é que está próximo de 49%. Ou seja, está ultrapassando e muito o limite prudencial e ainda vai continuar. Talvez fique abaixo do limite legal, do teto. Em 2009, aconteceu algo muito grave. O Rio Grande do Norte fechou suas despesas com pessoal acima do limite da Constituição que é de 60% para todos os poderes: Ministério Público, Poder Judiciário, o Tribunal de Contas, a Assembleia Legislativa, ou seja, o limite de todos esses poderes não pode ultrapassar 60%.

DD – E ultrapassou em 2009.

JA
– Estava com 61%. O Tribunal de Contas, inclusive alertou e cada poder teria que fazer a sua medida de ajuste. Porém o mais grave era no Poder Executivo que concentra a maior parte dos servidores públicos do Estado do Rio Grande do Norte, entre ativos e inativos são cerca de 101 mil. Então o Estado está nessa amarra jurídica que é de não ter condição de aumentar a sua despesa com pessoal.

DD – E como sair disso?

JA
– Aumentando receita e diminuindo despesa. Assim abriria, o que eu chamo de folga fiscal. A governadora numa medida corajosa e responsável, revogou todos os regimes especiais com relação a arrecadação do ICMS.

DD – Foi uma das primeiras medidas do governo dela.

JA
– Duras, enérgicas e necessárias. Isso deve refletir no aumento da receita com ICMS. Por outro lado também sinalizou na diminuição da despesa de custeio geral, e também no que fosse possível, na diminuição de despesas com pessoal. Iniciamos no início do ano e estamos quantificando para saber o quanto isso permitiu economizar. O que nós conversamos com os servidores foi que quando a gente tiver efetivamente essa folga fiscal, teremos condições de sentar e discutir como nós vamos caminhar para o entendimento.

Foto: Gerlane Lima


DD – Números do próprio governo apontam que a arrecadação cresceu 10% em relação ao mesmo período do ano passado. O senhor colocou essas informações à mesa com as categorias?

JA
– Alguns deles falaram, e deve proceder. Agora o que deve está se levando em conta é a receita total, e nela não está detalhada onde foi que aumentou. Por exemplo, a receita do SUS aumentou, mas isso é para pagar medicamento eu não posso pagar servidor com esses recursos. Então, esse e vários outros recursos entram na receita total e não podem ser usados para pagar pessoal porque já têm uma destinação. Só podemos usar a receita própria, como o ICMS que é a receita mais importante do estado, e os outros impostos. Mas até mesmo estes também têm vinculação. Por exemplo, 25% do ICMS é distribuído com os municípios. Metade do IPVA é distribuída com os municípios, tudo por poder de decisão da Constituição. Então apenas o bolo da receita própria do estado é que pode ser direcionado para pagamento com pessoal. Além dessa dificuldade, também foi registrada uma diminuição no repasse do Fundo de Participação dos Estados, por parte do Governo Federal.

DD – Ou seja, o governo diz não ter dinheiro para acabar com o impasse e aí?
Foto: Gerlane Lima



JA – Quando a gente tiver essa folga fiscal, nós vamos sentar, continuar dialogando. O governo do estado sempre esteve e continuará aberto a conversar.

DD – A governadora Rosalba Ciarlini se mostrou dura e disse, através da sua assessoria de imprensa que não senta com categorias em greve. Ela afirmou que so negocia depois que voltarem ao trabalho; mudou a postura?

JA - Não

DD – Então porque o senhor disse isso?

JA – Negociar é uma coisa, continuar mantendo o diálogo é outra. A gente vai negociar o que agora, se não temos folga fiscal? A gente só atende com dinheiro e possibilidade jurídica. Então é esse apelo que estamos fazendo ao conjunto de servidores, principalmente aqueles que estão em greve para não agravar o atendimento a população que demanda dos serviços públicos do estado.


Fonte: http://www.nominuto.com/noticias/politica/governo-nao-pretende-ceder-a-pressao-dos-servidores-em-greve/71464/
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