Liberou geral no presídio ...



Direção do Raimundo Nonato admite que presos usam drogas e usam celulares livremente na unidade
Paulo de Sousa
jpaulosousa.rn@dabr.com.br


Um total de 363 detentos continuam fora das celas no presÍdio provisório. Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press
Há quase um mês, os 363 detentos custodiados no Presídio Provisório Raimundo Nonato, na zona Norte de Natal, continuam circulando livremente pelos corredores da unidade prisional, sem serem trancados nas celas em momento algum do dia, devido a uma pane elétrica que atingiu toda a carceragem. Isso não é uma novidade, assim como parece não ser algo novo a denúncia de um soldado da Polícia Militar, que trabalha como guariteiro no presídio e teve a identidade preservada. Ele afirma que os presos chegam a "fumar maconha e atender telefone celular na nossa frente". Porque para o diretor da unidade, Francisco Silva, essa é uma prática comum e difícil de ser combatida. "Se fizermos uma revista hoje e tirar as drogas e os celulares daqui de dentro, amanhã já terá de novo". Ele também não dá previsão para retorno da eletricidade no presídio.

O soldado PM afirma que os presos não têm a menor preocupação de esconder dos guariteiros as práticas ilegais dentro do presídio. "Elesestão soltos e fazem o que querem. A maioria, inclusive, fica no refeitório. Ali, apenas uma parede os separa do lado de fora e já tentaram cavar um túnel anteriormente". Ainda segundo o policial, o uso de drogas e celulares por parte dos detentos é de conhecimento dos agentes penitenciários que trabalham diretamente com os presos na unidade, "mas eles não tomam qualquer providência".

O policial afirma que todos os guariteiros estão insatisfeitos com as condições de trabalho no presídio provisório. Segundo ele, nenhum dos guardas usa coletes balísticos e as armas utilizadas são velhas e desgastadas. "Ainda usamos fuzil FAL 762, que é uma arma do tempo da ditadura. Ficamos sem colete nas guaritas, podendo ser atingidos por tiros a qualquer momento, caso alguém tente um resgate dos presos". O PM reclama ainda da falta de qualidade na alimentação. "As quentinhas vêm, muitas vezes, estragadas. A pessoa só come quando realmente necessita". Segundo o soldado PM, os colegas da guarda estão todos querendo mudar de unidade devido à precariedade do serviço que eles tiram.

Francisco Silva, diretor da também chamada Cadeia Pública de Natal, admite que o uso de drogas e de celulares é algo corriqueiro no presídio. "É difícil de se evitar a entrada desse material, pois chega aqui através dos familiares dos detentos e até mesmo pela facilitação de agentes públicos. Não é possível saber quem são os responsáveis sem que haja uma investigação por parte da Polícia Civil ou por alguma comissão formada pela Sejuc [Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania]. Isso foge do controle da direção".

O diretor do presídio afirma ainda que não há uma data certa para que sejam religada a iluminação da carceragem, apesar da unidade estar em reforma há mais de uma semana. "Houve uma pane geral na eletrificação de toda a carceragem. Os reparos estão sendo feitos, mas de forma lenta, pois os funcionários da empresa precisam fazer o serviço em meio aos presos. Até porque, não temos como tirá-los de lá, o que seria o ideal, pois não teria onde colocá-los. Também não temos como trancá-los, pois não há energia suficiente nas celas para ligar os ventiladores. Prendê-los com esse calor pode gerar uma revolta, o que seria pior. Todos os dias perdemos tempo convencendo os detentos a cooperar", explica Francisco Silva.

O comandante da Companhia Independente de Policiamento de Guarda (CIPGD), o capitão PM João Fonseca, garante que os fuzis utilizados pelos guariteiros são modernos e de boa qualidade. "São armas de guerra ainda utilizadas pelas Forças Armadas". Ele reconhece, porém, a falta de coletes balísticos. "Mas já fizemos o pedido ao comando geral para que nos forneçam e estamos esperando a resposta". Quanto à alimentação, ele afirma que é algo de responsabilidade da Sejuc.

DN Oline
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