Distanciamento da PM em manifestação foi ingênuo, cômodo e uma vergonha, dizem especialistas...

20/6/2014 às 14h04 (Atualizado em 20/6/2014 às 15h04)


Protesto terminou com agências bancárias e concessionária depredadas

Vanessa Beltrão, do R7
A manifestação em favor da tarifa zero, organizada pelo MPL (Movimento Passe Livre), terminou com agências bancárias e concessionária depredadas nesta quinta-feira (19). Um dos motivos para esta destruição teria sido o distanciamento dos policiais militares que justificaram a conduta afirmando ter atendido a um pedido dos próprios manifestantes.
Na noite de quinta-feira, a Polícia Militar apresentou durante uma coletiva de imprensa um ofício do MPL que dizia que a presença ostensiva dos policiais era brutal e pedia o afastamento durante a manifestação. A PM disse ter aceitado o pedido.
Especialistas em segurança pública ouvidos pelo R7 discordaram desta conduta e classificaram como "ingênua, cômoda" e consideraram a atitude "uma vergonha". Para o ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva, no policiamento existem questões que são inegociáveis.
— A PM não pode deixar de acompanhar qualquer manifestação. Não interessa quem peça.
José Vicente ainda ressalta que o movimento pode, quando muito, solicitar uma ajuda da PM no planejamento do evento.
— Havendo um mínimo de potencial de conflito, a polícia tem que pensar no pior e pode ter um princípio de tumulto que coloca as pessoas em risco.
Para José Vicente, a postura da PM foi ingênua.
— As manifestações constituem oportunidade de invasão de grupos desordeiros, como aconteceu. Embora o movimento [Passe Livre] não tenha nada a ver com esses indivíduos, ele não tinha como garantir que fosse pacífica.
Para o jurista e presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais, Walter Maierovitch, a conduta da Polícia Militar foi "cômoda".
— É mais uma vez uma vergonha da polícia... Uma conduta muito cômoda onde eles esquecem que não é o movimento que tem que pedir. A presença da PM é permanente, em primeiro lugar, para garantir a manifestação e, em segundo lugar, para reprimir aqueles que abusam.
Segundo Maierovitch, a PM não pode se submeter a um pedido da minoria que se diz pacífica.
— Ocorre infiltração nesse movimento. A PM não sabe disso?
Manifestação
Durante o ato, alguns participantes tentaram garantir que o protesto fosse pacífico. A reportagem do R7 presenciou até mesmo discussão entre os manifestantes sobre as depredações, pois parte deles era contra os atos de vandalismo. Porém, a tentativa não surtiu o efeito desejado.
Os atos de depredação foram mais fortes na marginal Pinheiros. A maioria dos que praticaram vandalismo usava máscaras e ainda invadiu uma concessionária de automóveis de luxo. O grupo usou vários objetos, inclusive extintores de incêndio, para depredar dez veículos, além de todo o interior da loja, que havia passado por reforma e foi reinaugurada há uma semana.
A reportagem atestou também que a PM levou cerca de 30 minutos para chegar à marginal Pinheiros e intervir. Quando os policiais chegaram ao local, os manifestantes já haviam dispersado. Ninguém foi preso.
Para o ex-secretário nacional de segurança pública, José Vicente da Silva, houve falhas no planejamento e na condução da operação desta quinta-feira e providências devem ser tomadas.
— As imagens deverão ser examinadas pela Polícia Civil para identificação desses desordeiros. Quanto mais impunidade, mais se repete o problema. 
R7
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