Desde o início do ano, 26 pessoas já foram vítimas de balas perdidas no Rio

Desde 1º de janeiro, 26 pessoas já foram vítimas de balas perdidas na Região Metropolitana do Rio - em média, uma por dia. Destas, cinco morreram. Os casos estão espalhados por todas as regiões da capital e também foram registrados em Niterói e na Baixada Fluminense.



O caso mais recente é o de Sandra Costa dos Santos, de 58 anos, foi atingida na cabeça enquanto dormia, na madrugada de segunda-feira, na Rua Amanajó, em Bangu, na Zona Oeste. Por volta das 3h, ela acordou sentindo muita dor e pediu ajuda à filha, Thaís Costa dos Santos, de 24 anos.

- Primeiro, achei que ela tivesse caído. Logo depois vimos que era um tiro. Trouxemos ela imediatamente para o hospital - relatou a jovem.

Segundo ela, a mãe está consciente, mas perdeu muito sangue. O disparo atingiu Sandra na altura da testa. A vítima teve alta ainda nesta segunda.


Horas antes, na noite de domingo, Lilian Leal de Moraes, de 12 anos, foi baleada na canela em Costa Barros, na Zona Norte do Rio. Ela está fora de perigo. Moradora da comunidade Terra Nostra, em Costa Barros, na Zona Norte, a garota se recupera de uma cirurgia para a extração do projétil no Hospital estadual Albert Schweitzer, em Realengo. Na mesma sala estava uma mulher, vítima de bala perdida no pé esquerdo quando estava no portão de casa, em Mesquita, na Baixada Fluminense.

- É nessa hora que a gente vê que o perigo está em todos os lugares. Estava conversando com essa moça aqui e vi que não tem mais jeito esse lugar (o Estado do Rio). Ir para onde? Onde é seguro? Agradeço o fato de a minha irmã estar bem. Foi a mão de Deus - disse Liliane Leal de Moraes, de 21 anos, que acompanha Lilian no hospital.

Segundo informações de moradores, a menina foi vítima de uma guerra entre bandidos rivais que disputam território. Liliane contou que, de manhã, um tiro atingiu o transformador da rua e sua casa ficou sem luz. Ela, então, colocou o celular para carregar no vizinho. Quando o tiroteio cessou, pediu que a irmã fosse buscar o aparelho.

- Ela já estava voltando para casa quando ouviu um zunido e, logo depois, sentiu uma cãibra. Era a bala.


Lilian é aluna do 7º ano e havia acabado de voltar da igreja quando foi ferida. Ela foi socorrida por vizinhos e levada ao hospital. As duas irmãs são nascidas e criadas na Terra Nostra.

- Quando acontece uma coisa assim, lógico que o pensamento é ir embora. Mas tem lugar seguro no Rio de Janeiro? Ontem, logo que chegamos aqui, entraram outros quatro baleados - contou Liliane.

Na Rocinha, armas recolhidas

As armas dos policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio, envolvidos no tiroteio com bandidos em que Adrienne Solan do Nascimento, de 21 anos, foi atingida por bala perdida, já foram encaminhadas para a perícia. O exame busca determinar se foi da arma dos agentes que saiu a bala que matou a jovem. A informação é da assessoria de imprensa das UPPs. Segundo nota oficial, “policiais estão fazendo buscas na comunidade e o policiamento está reforçado na região. As armas dos agentes foram apreendidas para confronto balístico”.

A jovem foi baleada por volta das 21h de domingo, na Rua 1. Segundo a assessoria das UPPs, os agentes foram recebidos a tiros por criminosos e revidaram. Os bandidos conseguiram escapar. Adrienne ainda foi levada para o Hospital municipal Miguel Couto, na Gávea, também na Zona Sul. Ela não resistiu aos ferimentos.

Já a Polícia Civil informou que equipes da Divisão de Homicídios (DH) fazem diligências na região onde ocorreu o confronto para tentar identificar o autor do disparo que atingiu Adrienne. Os policiais militares, além de entregarem as armas, já prestaram depoimento na especializada.

‘Nação de criminosos’

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse nesta segunda-feira que o aumento do número de casos de balas perdidas se deve, principalmente, à existência de ‘‘uma nação de criminosos’’ no estado, formada por ‘‘pessoas que têm um desapego total à vida humana’’. Ao ser questionado sobre a solução para o problema, ele cobrou que as Forças Armadas assumam o combate à entrada de drogas, armas e munição nas fronteiras do país, mesmo que, para isso, tenha de se desfazer de parte de seu patrimônio para financiar operações:

- Eu quero ver alguém que saiba dizer quanto entra por dia de drogas, armas e munição no país. Ninguém tem isso, porque o controle é muito difícil, são 16 mil quilômetros de fronteira. É preciso uma ação muito grande, e o Brasil precisa acordar para essa necessidade. Há problemas que têm de ser represados lá fora. É inteligente, racional e mais barato combater o tráfico nas fronteiras que sair correndo aqui, pela Avenida Brasil, produzindo confrontos, policiais feridos e mortos inocentes.

O secretário disse ainda que, por mais que se esforcem, policiais federais e rodoviários não têm como vigiar bem as fronteiras e afirmou que as polícias Civil e Militar do Rio ‘‘estão se esgotando’’. Beltrame informou que, de novembro do ano passado até ontem, foram presas 4.410 pessoas e apreendidos 65 fuzis, 578 pistolas, 539 revólveres e 54 granadas no estado.

Os episódios no estado

6 de janeiro

Um homem ficou ferido em tiroteio entre PMs da UPP e bandidos no Morro do São Carlos, no Estácio, Região Central.

2 de janeiro

Uma adolescente de 14 anos e sua filha, de 2, foram baleadas em confronto entre policiais da UPP e criminosos no Morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, na Zona Sul.

15 de janeiro

Geneci Laureano, de 41 anos, e Juvenal Alves, de 67, foram baleados em assalto a ônibus na Avenida Brasil, em Manguinhos, na Zona Norte.

16 de janeiro

Larissa de Carvalho, de 4 anos, morreu ao ser atingida na cabeça em Bangu. Em Mesquita, na Baixada Fluminense, cinco pessoas foram baleadas quando um grupo tentou matar um traficante. Em Coelho Neto, Zona Norte, um soldado do Exército foi atingido em tiroteio entre traficantes e PMs. Isabel Cristina de Santana, de 27 anos, levou um tiro no peito durante tentativa de assalto na Avenida Brasil, na altura da Penha.

17 de janeiro

Carlos Eduardo Rodrigues de Paula, de 33 anos, foi atingido por uma bala perdida em Bangu.

18 de janeiro

Asafe William da Costa, de 9 anos, morreu após ser atingido em Honório Gurgel, na Zona Norte. Duas pessoas morreram baleadas num ataque de criminosos contra miliciano em São João de Meriti, na Baixada.

22 de janeiro

William Robaiana da Silva, de 35 anos, foi atingido em Santa Cruz, na Zona1 Oeste, durante operação da PM. Lavínia Crissulo, de 3 anos, foi baleada na perna em tiroteio entre PMs e criminosos na Cidade Nova, na Região Central. Em Benfica, na Zona Norte, Maria Aparecida de Jesus foi ferida durante assalto.

23 de janeiro

Edilton de Jesus dos Santos, de 20 anos, foi atingido no Parque de Madureira, na Zona Norte.

24 de janeiro

Caio Robert Carvalho Rodrigues, de 14 anos, foi baleado no Fonseca, em Niterói. Valéria Soares Pacheco, de 35 anos, foi vítima de bala perdida no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, Zona Norte.

Fonte: Extra
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