Tráfico arranca placas de sinalização de condomínio do ‘Minha casa’ no Rio para dificultar ação da PM

A entrada da Polícia Civil no Conjunto Residencial Haroldo de Andrade, condomínio do programa federal “Minha casa, minha vida” em Barros Filho, Zona Norte do Rio, acendeu o alerta dos traficantes que invadiram o local e expulsaram pelo menos 80 famílias de seus apartamentos.
Policiais civis, durante operação no condomínio Haroldo de Andrade
Após a operação “Lar doce lar”, realizada no local em 29 de setembro do ano passado — quando 400 policiais cumpriram mandados de busca em 60 apartamentos e prenderam cinco pessoas por tráfico de drogas no local — os bandidos ordenaram a retirada das placas de sinalização de blocos e apartamentos para dificultar a ação da polícia.

A descoberta foi feita por policiais da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), que estiveram no local em 25 de novembro do ano passado para o cumprimento de mandados de busca em outros apartamentos. Na ocasião, os policiais só puderam entrar no condomínio dentro de um blindado e após trocarem tiros com os bandidos.

— Quando conseguimos entrar, ainda demoramos para descobrir onde eram os endereços aonde tínhamos de ir. Lá dentro é estilo favela: nem apartamentos nem blocos têm numeração — conta um policial que participou da ação. Ao todo, são 1.260 apartamentos em quatro condomínios de seis blocos cada.

Uma moradora do conjunto relatou ao EXTRA que, antes da operação, os blocos e apartamentos eram sinalizados.

— Quando chegamos aqui, era tudo bonitinho, tudo tinha número. O carteiro conseguia chegar aqui. Hoje não mais. Temos que pagar uma taxa para que as cartas cheguem nas nossas casas, igual na favela — afirma a moradora.


Durante a ação da polícia no condomínio, os agentes da Dcod também se depararam com imóveis abandonados, que, ao invés de abrigaram quem não tem casa para morar, servem de depósito de lixo e entulho. Segundo os moradores do local, os apartamentos foram abandonados após a operação de setembro, quando seis famílias que haviam invadido imóveis de pessoas expulsas pelo tráfico foram encaminhadas à 40ª DP (Honório Gurgel) e indiciadas por esbulho possessório.

O inquérito que investiga a quadrilha responsável pela invasão do condomínio já foi relatado pela 40ª DP. Foram identificadas 12 pessoas acusadas de expulsarem moradores, instalarem bocas de fumo no local e “extorquir os moradores, cobrando uma ‘taxa de ocupação’” — segundo as investigações, a quadrilha lucrava R$ 20 mil por mês explorando o conjunto.

Até agora, só um dos acusados foi preso: Alexsander Coelho da Silva, o Sapo, também acusado pelo homicídio de um comparsa, Marcone de Jesus Soares, de 28 anos, dentro do condomínio. O corpo de Marcone, levado para o Complexo da Pedreira, até hoje não foi encontrado.


Em março de 2015, o EXTRA revelou, durante a série “Minha casa, minha sina”, que todos os condomínios do “Minha casa, minha vida” destinados aos beneficiários mais pobres — a faixa 1 de financiamento — no município do Rio são alvo da ação de grupos criminosos. Na ocasião, o EXTRA mostrou que o Conjunto Residencial Haroldo de Andrade foi invadido por traficantes do Complexo da Pedreira, que expulsaram moradores oriundos de áreas dominadas por uma facção rival.

Mais de 200 pessoas foram ouvidas, entre moradores, síndicos, policiais civis e militares, promotores, funcionários públicos e terceirizados, pesquisadores e autoridades. Além disso, foram analisados documentos da Polícia Civil, do Ministério Público, da Secretaria de Habitação, do Disque-Denúncia, da Caixa Econômica e do Ministério das Cidades.

Em setembro do ano passado, por conta das denúncias do EXTRA, o Ministério das Cidades criou uma portaria mudando as regras do programa federal para permitir que famílias expulsas por criminosos fossem realocadas. No final de dezembro, um ex-morador do Haroldo de Andrade teve sua situação atestada pela Secretaria de Segurança, permitindo o recebimento de outro imóvel.


Fonte: extra


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