“Não deram razões para minha saída”, afirma Matias Laurentino...


23 dias. Este foi o tempo que o delegado Matias Laurentino trabalhou na Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Contra a Ordem Tributária (Deicot), mas o suficiente para que visse a situação em que estava o Instituto de Pesos e Medidas (Ipem).

Laurentino revela que documentos foram falsificados e empresas abertas em nome de funcionários do próprio Ipem. “Nós estávamos constatando aquilo que já havia sido apontado na auditoria do Inmetro”, declarou.

Antes de completar um mês na Deicot, veio sua transferência. “Cheguei para trabalhar e já tinha sido publicado no Diário Oficial. Eu fui o último a saber”, disse. O delegado não quis entrar em detalhes quanto à sua saída. “Acho que quem exonerou é quem tem que expor o motivo”, comentou.

Em entrevista ao portal Nominuto.com, Matias Laurentino conversa sobre o trabalho na Deicot, sua saída da especializada e do que espera dos rumos da operação. “Fico satisfeito e espero que não haja retardamento do julgamento”, concluiu.

Quanto tempo o senhor ficou na Deicot?
Passei 23 dias como delegado adjunto quando recebi o cargo de presidir esse inquérito policial.

O que motivou a investigação no Ipem?
O Ministério Público requisitou à Deicot que fosse instaurado inquérito policial e feito apuração. Eles se basearam no relatório do Inmetro feito pela auditoria no Rio de Janeiro que já apontava todas irregularidades praticadas na gestão de Rychardson (ex-diretor do Ipem).

O que estava acontecendo no Ipem quando o senhor começou a investigar?
Em princípio, nós fomos apenas fazer uma verificação do que já havia sido apurado pela auditoria. Nós estávamos constatando aquilo que já havia sido apontado, diagnosticado na auditoria do Inmetro.

O que argumentaram para sua saída da Deicot?
Até agora estou procurando saber. Não me mandaram chamar. Antes da minha exoneração não me perguntaram se queria sair nem para onde ir.

A que o senhor deve sua saída da Deicot?
Acho que quem exonerou é quem tem que expor o motivo. O ato administrativo tem que ser motivado. Portaria tem que ser motivada. Quais as razões de retirar o delegado da delegacia. E esta motivação não consta na portaria.

Apenas comunicaram e transferiram.
Nem comunicaram. Cheguei para trabalhar e já tinha sido publicado no Diário Oficial. Eu fui o último a saber.

Depois de afastado, o senhor contribuiu com as investigações?
Não. Depois que me afastei, repassei algumas informações ao Ministério Público, que deu continuidade da apuração. Eu acho que tem que ser concluído pela Polícia Civil a quem compete fazer o indiciamento.

Como era a relação do senhor com o MP durante o período de depoimentos e investigação?
Sempre me relacionei muito bem com o Ministério Público.

Por que só agora essas irregularidades no Ipem vieram à tona?
Quando saí da Deicot eu formalizei um ofício pedindo para o delegado titular assinar encaminhando todo o procedimento para o Ministério Público. Não deixei na delegacia. Encaminhei ao Ministério Público.

Por quê?
Porque o Ministério Público tinha que tomar conhecimento primeiro da minha exoneração e para que pudesse proceder algumas medidas cautelares que eu já estava cogitando em adotar tais como busca e apreensão.

Já ia fazer àquela época?
Eu já tinha elementos para isso.

O senhor temia que sua investigação fosse paralisada com sua saída da Deicot?
Eu acredito que não já que eu peguei o inquérito do Ministério Público.

Quais as maiores dificuldades no período em que investigou o Ipem?
Nenhuma. Fiquei a vontade para investigar não recebi pressão ou qualquer telefonema.

Sumiram documentos?
Não. Os documentos que desapareceram na época a gente comprovou foram os processos que estavam sendo entregues no Tribunal de Contas. Havia recibos do ofício desse processo, mas ouvi o pessoal do Tribunal disse que esses processos não deram entrada lá. Usaram um carimbo falso.

Falsificado no Ipem?
É. Porque no Tribunal de Contas a rubrica não era da pessoa de lá.

O senhor via alguma proteção a Richardson?
Não.

Chegou a ouvi-lo na delegacia?
Ele conversou comigo e queria que o ouvisse. Eu pedi que ele aguardasse que eu ia intimá-lo no final para ouví-lo.

O senhor vê que dentro do Ipem formavam um “escudo” para encobrir os crimes?
A gente vê que esses processos não chegavam lá (no Tribunal de Contas). O interesse era justamente dos gestores em falsificar os recibos do Tribunal.

O que mais te assustou nos documentos do Ipem?
Foi terem aberto uma empresa (R&R Representações) pelas pessoas ligadas ao próprio presidente do órgão. Essa empresa prestadora de serviço contratava pessoas para prestar serviço ao órgão e sequer compareciam ao local de trabalho e ainda recebiam diárias.

Mesmo com tantos indícios apresentados, por que a demora em desencadear a operação?
O trabalho da Polícia Civil foi muito rápido. O Ministério Público precisava fazer o trabalho que é demorado. Levantamento dados bancários que as vezes o banco demora a informar, pedidos ao juiz que demora a ser apreciado. O prazo para operação foi razoável.

Qual a reação ao saber dos áudios em que dois envolvidos tramam “afastar” o senhor por conta do seu trabalho?
Eu fico muito triste com isso, mas isso não vai tirar minha motivação de continuar exercendo meu trabalho enfrentando desafios porque sou acostumado com isso.

Como o senhor se sente ao ver o resultado da operação agora?
Fico satisfeito e espero que não haja retardamento do julgamento. Eu tive inquéritos contra pessoal da Urbana, há dez anos fiz inquérito contra o pessoal da saúde e pelo que você vê no sistema esses processos não foram julgados foram julgados porque as vezes chega a prescrição, não dá nada e a polícia judiciária perde o seu trabalho. O poder judiciário tem que agir nesses casos de corrupção diminuindo os tipos de recursos que a lei permite para um julgamento mais rápido. Minha preocupação é só essa. Apenas estou temendo retardamento na apuração do poder judiciário devido a inúmeros recursos que existem na área criminal.




Fonte: Nominuto.com
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